Noites Brancas, de Fiódor Dostoiévski

O verão de São Petersburgo é marcante por seu clima noturno em que o sol parece não abandonar a cidade, dando a ela um aspecto fantasmagórico. Essa característica fantasmal, presente nas chamadas noites brancas, reflete exatamente a natureza do personagem principal, que vive numa realidade à parte e não possui uma existência de fato.

Seus devaneios confundem-se com a própria realidade. Solitário por natureza, ele tem como melhores amigos os pensamentos e as nuances da cidade em que vive. Todos os dias, conversa com as casas por onde passa. São suas amigas íntimas! Visita locais onde teve breves momentos de alegria e observa a felicidade dos outros. Todos estão saindo da cidade, viajando durante o verão e sendo felizes com isso, enquanto apenas ele permanece na tristeza e solidão. Afinal, se fizesse a mesma coisa que os outros também seria feliz, não é mesmo?

Mas, ele não é como os outros. Ele é diferente. É um sonhador! Enquanto os outros viajam para fugir do cotidiano, ele viaja pelo cotidiano, pois sua realidade não é a mesma dos outros. Sua realidade são as próprias imaginações, os próprios devaneios. Durante um de seus passeios pela cidade, encontra uma moça que chora na ponte sobre o rio Nievá e, imediatamente, se dirige a ela. Mas, sua timidez o impede de prosseguir. A moça percebe que alguém a observa, ela volta a si, olha ao redor e toma seu caminho. Com a melhor das intenções, ele a segue, porém ela percebe, se assusta e começa a andar mais depressa. Preocupada com o homem que a segue, ela não vê um bêbado se aproximando, até ele já estar em cima dela, quando solta um grito e o sonhador a salva. Ele a acompanha até em casa, começam a conversar e, a partir daí, se desenrola o romance.

A história parece simples à primeira vista, mas é complexa. Não é um livro leve como alguns falam. É uma obra profunda que traz temas como o existencialismo e a solidão, principalmente nos momentos de devaneio do sonhador que são filosóficos, questionam a existência e questionam o ser. A obra reflete o ser humano como ele é. Como se busca a vida inteira por um ideal de felicidade, por um ideal de vida. Trata o amor como o mais cruel dos sentimentos, pois criamos expectativas que viram frustração e acreditamos em promessas que são, facilmente, quebradas. Este é um livro que parte o coração de quem o lê.

– Onde sepultou a sua melhor época? Você viveu ou não? Veja, digo a mim mesmo: veja como o mundo está ficando frio. Ainda passarão anos e atrás deles virá a solidão sombria, virá a velhice trêmula com uma bengala e, atrás dela, a tristeza e melancolia – Dostoiévski.

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