Colunista do Portal UOL "clama" por "terrorista ateu, que trabalhe no 7 de Setembro e saiba dar fim a um imperador autoimposto"

Há muitos textos bizarros na internet, especialmente, na grande mídia. Mas, a redação do colunista do portal UOL, escritor e crítico literário, Julián Fuks, realmente é um daqueles que nos marca profundamente. Não que seja pela "sororidade" - como dizem alguns - da escrita, nem pelo assunto em si; mas são as entrelinhas, o que não foi dito, porém, subtendido, é o que assusta.

Fuks "clama" por um "terrorista" que esteja disposto a trabalhar no feriado de 7 de Setembro. Alegando que existem "seres violentos, intolerantes, sanguinários e grosseiros", o colunista solicita um criminosos para "resolver o problema".

Como todos sabem, no entanto, a data nacional é marcada pela maior concentração de pessoas que apoiam o Governo do presidente Jair Bolsonaro (PL). Famílias de cristãos, conservadores e pessoas ligadas à direita no Brasil participam dos atos patrióticos e; quando o escritor pede que um criminoso adentre a manifestação, o que ele sugere ao leitor? Um novo Adélio Bispo? Alguém capaz de quê?

Ele não respondeu a essa questão. Mas, nas palavras do próprio autor, ele sugere alguém que "transforme a história, que seja ateu, inventivo, sutil, inteligente e que saiba dar o fim ao coração de um 'imperador autoimposto', para devolver enfim ao povo seu coração próprio, vivo e vermelho".

Leia o texto completo:

- Não desses violentos, nunca desses intolerantes e truculentos, jamais desses sanguinários e grosseiros. Precisa-se de um terrorista com máxima aversão ao sangue e à dor alheia, crítico ferrenho da impiedade e da indiferença. Precisa-se de um terrorista incapaz de covardia, contrário a toda crueldade, alérgico às armas e aos dedos em riste que insistem em tomar conta do país. Precisa-se de um terrorista ocioso e sonhador, um desses seres poéticos que se veem tão pouco à vontade em nosso tempo. Precisa-se de um terrorista inadaptado às urgências opressivas do trabalho, mas disposto a trabalhar no feriado de 7 de setembro.
Precisa-se de um terrorista que conheça a história, que entenda os acontecimentos do passado em suas profundezas, não em seu caráter celebrativo ou anedótico. Que saiba que o grito da independência entoado há duzentos anos foi uma mentira, uma farsa insidiosa, e não só porque não havia nada de heroico no monarca em desarranjo sobre um burrico qualquer, ou porque a declaração já tinha sido feita dias antes por sua mulher. Que saiba que aquele homem, ao se autodeclarar imperador, não o fazia para fundar país nenhum, e sim para garantir a si mesmo e ao seu séquito a manutenção de seus privilégios, a continuidade da escravidão por mais algumas décadas. Que saiba, então, que em tal grito mítico estava contido um grito bem mais dramático e aflito, o grito da multidão negra condenada à exploração desumana.
Precisa-se de um terrorista que compreenda bem o presente, que perceba que a fúria que hoje vemos também é feita da sanha de perpetuar privilégios, quase os mesmos a atravessar os séculos sem trégua. Que perceba a repetição dos discursos, do desejo de continuar a explorar e destruir os trabalhadores e a terra, que note quanto o racismo de hoje ecoa os horrores do escravismo longevo, quanto toda discriminação ainda provém desse projeto de país tacanho e cruel. Que perceba também que agora se repete o desejo de permanência forçada no poder, a mesma ideia de que um homem messiânico deveria continuar a imperar, contra a vontade das gentes.
Precisa-se de um terrorista ateu, que não veja nada de sagrado ou de intocável nos restos de um sujeito que morreu há quase duzentos anos. Que compreenda que o coração não é mais que uma víscera entre tantas, e que essa víscera de um velho e infame governante já deveria ter apodrecido como qualquer outra, como as de qualquer homem comum, já deveria ter se tornado carne para os vermes. Precisa-se de alguém que enxergue o absurdo que é mover toda a máquina estatal para trazer um naco cinzento de cadáver, e tratá-lo com as pompas de um líder vivo e estimado, digno do máximo respeito.
Precisa-se de um terrorista inventivo e sutil, um terrorista inteligente, que conceba uma maneira mais razoável de tratar o coração pútrido de Dom Pedro I. Um terrorista mais inventivo que este escriba, que consiga com um ato expressivo e contundente nos livrar de tanto escárnio. Alguém que nos ajude a redimir a dor perene dos escravizados, e quem sabe assim a declarar uma nova e verdadeira independência. Alguém que faça o país se   reconciliar com seu passado, não em sua face bárbara e inclemente, mas em seu vasto histórico de luta e resistência. Alguém que saiba dar o fim devido ao coração de um imperador autoimposto, para devolver enfim ao povo seu coração próprio, vivo, vermelho -

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