O Trilo do Diabo: uma obscura obra-prima musical

- Uma noite, sonhei que tinha feito um pacto com o diabo, o qual se dispôs a me dar vantagens, em troca de minha alma. Meu novo conhecido antecipava meus desejos e os satisfazia. No sonho, intrigado em saber se o demônio, realmente, entendia de arte, tive a ideia de entregá-lo meu violino para ver se ele sabia tocá-lo. Qual foi o meu espanto ao ouvir uma sonata tão bela e insuperável, executada com tanta arte. Senti-me extasiado, transportado, encantado. A respiração falhou-me e despertei. Tomando meu violino, tentei reproduzir os sons que ouvira, mas foi tudo em vão. Pus-me, então, a compor uma peça: O Trilo do Diabo que, embora seja a melhor música que já escrevi, é muito medíocre a que ouvi no sonho -

Estas são as palavras que Giuseppe Tartini, um famoso violinista italiano, escreveu em uma carta para um amigo. Desde a infância, o violino se fazia presente em suas mãos e, por consequência, atualmente, é considerado um dos maiores violinistas que já passou por esse mundo.

Sua obra prima, a mais conhecida, é a Sonata do Diabo ou o Trilo do Diabo e, segundo o próprio Tartini, ele não é o autor dessa obra. Em seu depoimento, conta que, certa vez, quando dormia, o próprio diabo se revelou para ele em um sonho, prometendo-lhe fama, ideias, criatividade e inspiração em troca apenas de sua alma. O homem, desconfiado das promessas que o demônio fazia, perguntou se ele, realmente, detinha conhecimento sobre a arte. Desafiado, a besta agarrou o violino e fez sair das cordas uma belíssima música, que convenceu Giuseppe na hora.

Quanto mais a música seguia, mais técnica, trabalhada e complexa ficava; deixando Tartini muito assustado com o que escutava. Acordou com falta de ar depois da conversa com o diabo.

Mesmo muito espantado com o que ouvira, o violinista correu atrás de suas partituras para anotar as notas que ouviu no sonho. Porém, ele não conseguiu se recordar de todas, devido à complexidade presente na música.

Anos se passaram até que Tartini concebesse a obra ao mundo, visto que se sentia insatisfeito com sua versão. Pois, nada que tentava reproduzir se comparava ao que escutara em seu sonho. Mesmo assim, rapidamente, por meio da sonata, se tornou ainda mais conhecido. Ainda assim, se fazia perplexo com tal obra que, segundo ele mesmo, seria apenas uma versão medíocre, falha, se comparada a que teria ouvido no bendito (ou maldito) sonho.

Tartinni foi um verdadeiro “Gênio Louco” de sua época. Inventou notas fantasmas e criou técnicas inovadoras, se tornando um verdadeiro revolucionário da música. Por outro lado, sua vida foi bem conturbada: se casou, ilegalmente, com a sobrinha de um cardial católico. Teve ordem de prisão decretada, fugiu, depois foi perdoado e voltou para seu país.

Enfim, mesmo com tudo isso, conhecidos afirmam que ele não parava de tentar reconstruir a música que ouvira no sonho, nota por nota, Tartini todos os dias alterava. Quebrava quase que, diariamente, o instrumento, devido à frustração que sentia de, no final do dia, nada ter se lembrado. O desgosto de ter esquecido a partitura o deixou com umm temperamento raivoso, que o perseguiu toda a vida.

Por isso, boatos tomaram conta a respeito da vida particular dele, afirmando que toda essa história não passou de fruto de sua loucura. Morreu em 1770 e, até hoje, a sonata é considerada uma das músicas mais complexas de ser tocada no mundo. Apenas violinistas aptos e especialistas no instrumento conseguem reproduzi-la. Nunca foi concluída.

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