A Dor de Recomeçar: A Tragédia Climática e Seus Reflexos em Canoas

Canoas (RS) – 25 de abril de 2025 – Há um ano, a maior catástrofe climática da história do Rio Grande do Sul devastou o bairro Rio Branco, em Canoas, forçando Almerinda Veiga da Silva, de 57 anos, a abandonar sua casa e, desde então, viver em abrigos. Ela está no quinto local de acolhimento, um reflexo da tragédia que levou consigo não apenas a sua casa, mas também membros da sua família.

“Perdi minha filha, que tinha Síndrome de Down, e também meu marido, que não aguentou o trauma e faleceu no Natal”, lamenta Almerinda, em entrevista à Agência Brasil.

A catástrofe provocada por chuvas intensas afetou mais de 2,1 milhões de pessoas e resultou na morte de ao menos 147.

Almerinda e sua filha foram resgatadas e encaminhadas a um abrigo especial para mães com filhos atípicos. Embora o resgate tenha oferecido segurança, o impacto psicológico da tragédia foi profundo. O marido de Almerinda, traumatizado pela enchente, entrou em depressão e faleceu após meses de sofrimento.

Atualmente, o Centro Humanitário de Acolhimento (CHA) Esperança, localizado no Centro Olímpico de Canoas, abriga 216 pessoas. Este é o único abrigo ainda ativo na cidade, após um ano de crise. A unidade foi inaugurada em julho de 2024, resultado de uma parceria entre o governo do estado, a Fecomércio-RS e a Organização Internacional para as Migrações (OIM). Ela oferece serviços de saúde, alimentação, assistência social, apoio à busca de emprego, inscrição em programas de habitação e até abrigo para animais de estimação. No entanto, o local deve ser desativado até o final de maio.

Outros centros de acolhimento no estado também estão em processo de desmobilização, incluindo um em Porto Alegre, que atualmente abriga 120 pessoas. Em total, 93% dos abrigados do estado estão concentrados em apenas dois centros, com cerca de 380 pessoas ainda assistidas no Rio Grande do Sul.

O Processo de Reintegração:

Apesar dos esforços para ajudar os desabrigados, muitos enfrentam dificuldades para retomar a vida normal. Cláudio Joel Bello, de 42 anos, ainda se encontra no centro de acolhimento em Canoas. Ele perdeu tudo na enchente do bairro Mathias Velho e, mesmo tendo sido selecionado pelo programa Compra Assistida, que oferece até R$ 200 mil para a compra de uma casa, se queixa da lentidão no processo.

“Já deveria estar na minha casa há quase um ano. Por que o governo me deu a casa e ainda não posso ir?”, questiona.

Outro caso é o de Almerinda, que, após se mudar para um imóvel alugado, não tem os móveis necessários para viver dignamente. “A casa está alugada, mas sem móveis, não consigo viver lá”, relata, buscando ajuda para obter doações de eletrodomésticos.

O Desafio da Reestruturação:

A prefeitura de Canoas informou que está construindo 58 casas temporárias no bairro Estância Velha, com previsão de conclusão até o dia 15 de maio. Além disso, dois novos empreendimentos habitacionais estão sendo erguido em Niterói e Fátima, com previsão de entrega em até 18 meses.

Ainda assim, a recuperação será longa. Em todo o estado, mais de 5.500 imóveis foram classificados como inabitáveis após a enchente, e muitos abrigados continuam à espera de uma solução definitiva para suas moradias.

A reconstrução das casas danificadas e a retomada da normalidade para os moradores de Canoas e de outros municípios atingidos pela tragédia seguem como um dos maiores desafios para a administração pública.

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