Morre José “Pepe” Mujica, ex-presidente do Uruguai e símbolo da esquerda latino-americana


Faleceu nesta terça-feira (13), aos 89 anos, o ex-presidente uruguaio José Alberto “Pepe” Mujica, em Montevidéu. A morte foi confirmada pelo atual presidente do Uruguai, Yamandú Orsi, político ligado à Frente Ampla, mesma coalizão de esquerda que levou Mujica ao poder.
Conhecido por sua atuação no passado como guerrilheiro do grupo Tupamaros — responsável por sequestros, assaltos e ataques armados nas décadas de 1960 e 1970 — Mujica passou quase 14 anos preso durante o regime militar. Sua trajetória controversa, de militante radical a líder populista, o transformou em ícone da esquerda latino-americana.
Mujica vinha lutando contra um câncer no esôfago desde 2023, e passou os últimos meses em cuidados paliativos em sua chácara nos arredores da capital uruguaia, longe da vida pública. Não chegou a comparecer às eleições regionais realizadas no último domingo (11).
Legado populista e propostas polêmicas
Presidente do Uruguai entre 2010 e 2015, Mujica ficou famoso pela retórica anticapitalista e pelo estilo de vida austero, que foi amplamente explorado por campanhas de marketing político. Durante seu governo, aprovou medidas polêmicas como a legalização da maconha, o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo — temas que dividiram a opinião pública e geraram críticas de setores mais conservadores da sociedade uruguaia.
Ainda assim, sua gestão foi marcada pela expansão de programas assistencialistas e pelo aumento da presença do Estado na economia, seguindo a cartilha da esquerda regional em alinhamento com governos como os de Hugo Chávez, Evo Morales e os Kirchners.
Guerrilheiro convertido em símbolo da esquerda global
Natural de Montevidéu, Mujica foi cofundador do Movimento de Libertação Nacional Tupamaros, responsável por uma série de ações violentas em nome de uma revolução socialista. Após a redemocratização, ajudou a fundar o Movimento de Participação Popular (MPP), braço político dos ex-guerrilheiros, e acabou sendo eleito deputado, senador, ministro da Agricultura e, mais tarde, presidente.
Embora tenha sido promovido internacionalmente como exemplo de ética e humildade, críticos apontam que sua popularidade internacional muitas vezes ocultava as contradições de seu governo e a origem violenta de sua militância.
A defesa da integração regional como ideologia
Mujica foi defensor da chamada “integração latino-americana”, bandeira frequentemente usada por governos de esquerda para justificar alianças ideológicas e políticas supranacionais. Para Mujica, a união dos países da região seria a única forma de enfrentar as grandes potências mundiais, posição que muitos consideram utópica e marcada por uma visão ultrapassada da geopolítica.
Apoio de Lula e homenagem oficial
Em dezembro de 2024, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva foi pessoalmente até o Uruguai para homenagear Mujica com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, principal condecoração do governo brasileiro a estrangeiros. A cerimônia informal, realizada em sua chácara, foi mais um gesto de aproximação entre os governos da esquerda sul-americana.
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