Enchente volta a atingir Ilha da Pintada em Porto Alegre

Pouco mais de um ano após as cheias históricas de maio de 2024, os moradores da Ilha da Pintada, no bairro Arquipélago, em Porto Alegre, voltaram a enfrentar a força das águas do Rio Jacuí. Classificada pela Defesa Civil como área extremamente vulnerável a inundações, a ilha está localizada no Delta do Jacuí, por onde escoam cerca de 80% das águas que formam o Lago Guaíba.

As chuvas das últimas semanas elevaram o nível do Guaíba acima da cota de inundação, fazendo com que a água avançasse sobre ruas, residências e estabelecimentos comerciais. Muitas famílias precisaram deixar suas casas.

“Algumas ruas estão alagadas e intransitáveis desde a semana passada”, contou Alexandre Rossato, dono de uma marina na rua Nossa Senhora Boa Viagem. Ele estima que seu galpão de 3 mil metros quadrados esteja com água até a cintura. Mesmo assim, os danos foram menores do que em 2024, quando teve prejuízo de R$ 1,2 milhão. “Desta vez, ficamos mais cautelosos. Ao primeiro sinal de que a água chegaria, suspendemos parte das 230 moto aquáticas”, explicou.

Rossato, que há quase 16 anos trabalha na ilha, diz que a enchente atual é diferente da do ano passado. Segundo ele, o assoreamento do rio, agravado pela proibição da retirada de areia, fez o nível subir mais rapidamente perto da marina. “Se formaram bancos de areia e até uma nova ilha, mudando o canal de navegação”, alertou. Ele também destacou a solidariedade dos moradores, que têm se ajudado mutuamente. “Nesta vez, temos 11 famílias alojadas gratuitamente nos apartamentos do segundo andar da marina”, contou.

Uma dessas famílias é a da agente de educação Paola Sum, de 31 anos. Moradora da ilha há 14 anos, ela precisou sair com o filho de 13 anos e a mãe de 63 na última terça-feira. “Saímos antes que a água entrasse para não ficarmos ilhados. Mesmo assim, o nível na rua chegou à altura da minha cintura”, relatou. Para salvar os móveis, ela improvisou com pallets, cavaletes e tijolos. Paola disse que uma irmã também deixou a casa, indo para Eldorado do Sul, igualmente afetada pelas chuvas.

“Estamos acostumados com cheias, mas não como estas últimas. Antes de 2023, nunca tinha entrado água na minha casa. Agora já enfrentamos pelo menos quatro grandes enchentes desde então”, lamentou. Em maio de 2024, relembra, a água chegou quase ao teto.

Outro ponto afetado foi o imóvel onde funcionam o Quilombo da Resistência e a Quitanda da Bia, administrados pela líder comunitária Beatriz Gonçalves Pereira, a Bia da Ilha. Esta é a terceira vez desde novembro de 2023 que o local fica alagado. “Embora não se compare à cheia do ano passado, esta é uma das mais estranhas”, comentou. Segundo ela, apesar de parte das ruas ainda permitir passagem, a situação preocupa devido à previsão de mais chuva. “Toda a água que cai nas cabeceiras do Taquari e do Jacuí vem para o Guaíba”, alertou.

Além dos alagamentos, houve interrupção do fornecimento de energia elétrica em parte da ilha para evitar acidentes. “Isso dificulta a comunicação, o carregamento de celulares e afeta quem precisa de equipamentos de saúde ou tem produtos congelados para vender”, relatou. Apesar das dificuldades, Bia enfatizou a união dos moradores. “É uma sensação de impotência, mas somos resistência. Quem tem casa mais alta aloja os vizinhos, e com a ajuda dos órgãos públicos, que distribuem água e comida, vamos nos reerguer mais uma vez”, afirmou.

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