Advogados de Bolsonaro prestam depoimento em inquérito criticado por motivação política


A Polícia Federal colheu nesta terça-feira (1º) os depoimentos dos advogados Fábio Wajngarten e Paulo Cunha Bueno — ambos ligados à defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro — além do advogado Eduardo Kuntz e do coronel Marcelo Câmara, ex-assessor presidencial.
Eles foram ouvidos simultaneamente, em salas separadas, no inquérito que investiga suposta tentativa de “obstrução” da ação penal sobre uma suposta trama golpista. Os depoimentos foram determinados pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, conhecido por sua postura controversa e alvo de críticas por conduzir inquéritos que setores jurídicos e políticos consideram abusivos.
Em São Paulo, Wajngarten, Bueno e Kuntz compareceram à superintendência da PF e foram interrogados por videoconferência com Brasília. Já Marcelo Câmara depôs presencialmente em Brasília, onde está preso.
A convocação dos advogados ocorreu após o ex-ajudante de ordens Mauro Cid, em delação premiada, entregar documentos com relatos de sua mãe, esposa e filha sobre supostas abordagens de Wajngarten e Bueno em busca de informações sobre o conteúdo de sua delação.
A defesa de Cid alega que os advogados teriam pressionado os familiares a fornecer dados e a destituir a defesa anterior. Já o ministro Alexandre de Moraes considerou haver indícios de crime de obstrução de investigação. Eduardo Kuntz também virou alvo de apuração por supostamente procurar insistentemente a filha menor de Mauro Cid.
Os advogados negam categoricamente qualquer irregularidade. Bueno foi o primeiro a deixar a PF, antes das 17h, sem falar com a imprensa. Kuntz saiu por volta das 20h30 após mais de 5h30 de depoimento e declarou que sua atuação foi “totalmente dentro dos parâmetros, sem qualquer tipo de conduta ilícita ou com falha ética”.
Fábio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação Social da Presidência, concedeu entrevista e repudiou as acusações, que classificou como falsas e caluniosas. Ele afirmou que pretende acionar judicialmente os responsáveis pelas denúncias, embora não tenha especificado quem.
“Repudio de forma veemente a acusação de tentativa de tumultuar, de desorganizar, de atrapalhar ou de embaraçar a investigação. Vou estudar as medidas cabíveis para ingressar com ação por denúncia caluniosa”, declarou Wajngarten.
Ele também negou ter feito contato para questionar qualquer detalhe de delação e disse que só falou com a filha de Mauro Cid, meses atrás, sobre um campeonato de hipismo em São Paulo.
Wajngarten apontou viés político na investigação:
“Poucas vezes dei minha opinião. Esse processo de ‘golpe’ é uma tentativa de retirar o presidente Bolsonaro do processo eleitoral de 2026. Mas uma eleição sem Bolsonaro não é uma eleição democrática”, afirmou.
Para críticos do STF, o inquérito se tornou mais um instrumento de perseguição política para afastar Bolsonaro das eleições e intimidar seus aliados. Mesmo sem apresentar provas concretas de obstrução, a investigação vem sendo usada para criar constrangimento público, reforçando o clima de polarização e alimentando suspeitas sobre o uso político da Justiça.